Altas Habilidades no espaço escolar

Publicado em 07 de Outubro de 2022

As Altas Habilidades ou Superdotação caracterizam-se pelo alto nível de inteligência e desenvolvimento acelerado de funções cerebrais, conforme a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (2006). Essa elevada potencialidade em habilidades e talentos é evidenciada desde cedo no desenvolvimento da criança, apontando até mesmo para uma precocidade.

Algumas das características comuns às pessoas com Altas Habilidades ou Superdotação são: curiosidade em grau elevado, vocabulário rico ou incomum para a idade, criatividade, bom senso de resolução de problemas e situações com ideias criativas e inovadoras, boa memória para detalhes, hiperfoco em assuntos específicos com conhecimento de muitos dados ou fatos, boa capacidade de liderança, facilidade para aprendizagem ou alfabetização precoce com bom desempenho em uma ou mais disciplinas em comparação com seus pares, boa capacidade de observação e pouca necessidade de orientação, aprendizagem de forma autônoma, persistência na realização de uma tarefa ou busca por uma solução.

As Altas Habilidades podem estar presentes em uma ou mais áreas, podendo ser isoladas ou combinadas. As áreas mais comuns de alto desempenho são:

Intelectual: sendo como algumas de suas características a flexibilidade e fluência de pensamento;

Acadêmica: traz em evidência aptidão acadêmica específica e habilidades para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento;

Criativa: traz originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de forma diferente e inovadora;

Social: é marcante a capacidade de liderança, relacionamento e comunicação interpessoal, tendência a resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influência no grupo;

Artística: as habilidades e sensibilidade podem ser nas artes plásticas, música, teatro e literatura.

Psicomotora: boa coordenação motora, consciência corporal, alto desempenho em velocidade, agilidade de movimentos, força e resistência.

Dentre as principais teorias sobre as Altas Habilidades ou Superdotação, destacam-se: o Modelo Diferenciado da Superdotação e Talento de Gagné, a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner e Os Três Anéis de Renzulli.

Para o psicólogo educacional Robert Gagné, a superdotação é herança genética (existência natural), já os talentos se dão a partir da interação com o meio. Ambientes ricos em estímulos (práticas e treinos) tendem a formar indivíduos mais talentosos.

O psicólogo cognitivo e educacional Howard Gardner parte da teoria das várias inteligências de um indivíduo, divididas em oito blocos: inteligência linguística, inteligência lógico-matemática, inteligência espacial, inteligência musical, inteligência cinestésica, inteligência interpessoal, inteligência intrapessoal, inteligência naturalista, inteligência existencial ou espiritualista.

Segundo Gardner, todas as pessoas têm capacidade de ter bom desempenho nas áreas citadas, mas as pessoas com Altas Habilidades ou Superdotação respondem com alta motivação, intenso envolvimento e prazer em realizar aquilo que se propõe, valendo-se de persistência e coragem. Gardner salienta que, uma pessoa pode destacar-se em um bloco ou em blocos combinados, sendo assim, a oferta de estímulos deve ser ampla.

Já o psicólogo educacional Joseph Renzulli, em sua teoria denominada “A Teoria dos Três Anéis”, entende a superdotação sob a tríade: habilidade acima da média, criatividade e envolvimento na tarefa.

Muitas pessoas possuem habilidades e facilidade nas áreas citadas, o que distingue as pessoas com Altas Habilidades é a elevada potencialidade e aptidão no desempenho de atividades que é evidenciada como acima da média, tendo em comparação seus pares. Para tanto, alguns critérios precisam ser observados além da elevada potencialidade, como a constância nessas aptidões. Uma pessoa com Altas Habilidades/Superdotação terá a mesma capacidade ao longo do desenvolvimento, exceto, devido a fatores externos que alterem essa capacidade.

Observadas as características acima citadas, faz-se necessário o encaminhamento para um profissional especializado (psicólogo ou neuropsicólogo), que através de testes próprios para a identificação das Altas Habilidades emitirá o laudo. O olhar atento para as Altas Habilidades ou Superdotação na escola é fundamental e após a constatação por meio do Relatório de Avaliação Psicológica (laudo psicológico), a escola deve estar em alerta para as necessidades desses alunos, suplementando suas áreas de interesse através do enriquecimento curricular e complementando as áreas em que o aluno apresenta dificuldade.

Alunos com Altas Habilidades podem apresentar dificuldades em algumas áreas. A genialidade global é um mito que deve ser desconstruído. O enriquecimento curricular, no modelo de Renzulli, pode ocorrer de três formas, sendo elas: tipo I, II e III. O enriquecimento tipo I pode ser trabalhado com toda a turma com atividades exploratórias gerais com temas e tópicos variados do interesse do aluno, mas que não estão contemplados no currículo escolar. No enriquecimento do tipo II são utilizados métodos, materiais e/ou técnicas de instrução que contribuem para o desenvolvimento de processos superiores de pensamento, instigando e instrumentalizando os alunos para encontrar respostas a situações, desafios e problemas reais. Já no enriquecimento tipo III, há incentivo para o aluno encontrar e atingir conhecimentos teóricos e metodológicos avançados em áreas do seu interesse, desenvolvendo produtos ou serviços originais que possam ser do interesse de determinados grupos.

Outra possibilidade para os alunos com Altas Habilidades ou Superdotação é a aceleração curricular, que conforme Alencar (2007), consiste em oportunizar a um ritmo mais rápido o conteúdo curricular que seria na forma regular, desenvolvido em maior tempo. Nesta sequência, Delou (2007) destaca que:

Entre os objetivos da aceleração de estudos encontram-se:

(a) ajustar o ritmo de ensino às potencialidades dos

estudantes, a fim do desenvolvimento de um trabalho ético

racional, (b) fornecer um nível apropriado de desafio escolar

a fim de evitar o tédio oriundo da repetição das

aprendizagens e (c) reduzir o período de tempo necessário para o estudante completar a escolarização tradicional,

incluindo-se a entrada precoce na escola ou na universidade.

Assim sendo, quando necessário e acordado com a equipe de profissionais multidisciplinares e equipe pedagógica, o Plano de Desenvolvimento Individual é implementado, tendo em vista atender à demanda acadêmica dos alunos com Altas Habilidades, empregando estratégias pedagógicas diferenciadas, como a sala de aula invertida, Steam (ciências, tecnologia, engenharia, arte e matemática) e o uso da tecnologia como recurso pedagógico pode tornar as aulas mais atraentes. Os alunos com Altas Habilidades podem ser atendidos, também, em projetos e atividades extracurriculares, como em Sala de Recursos Multifuncionais, aula de idiomas, robótica, artes, treinamento desportivo, voluntariado, entre outros. É primordial que as pessoas com Altas Habilidades ou Superdotação, recebam estímulos que os mantenham motivados e engajados na vida acadêmica e que tragam prazer e satisfação para os mesmos.

Referências

ALCANTARA, Brenda Derbli. Inclusão de alunos com Altas Habilidades/ Superdotação na Educação Infantil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 06, pp. 05-25. junho de 2020. ISSN: 2448- 0959. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/inclusao-de-alunos

BRASIL, Ministério da Educação. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas habilidades/superdotação. [2. ed.] / coordenação geral SEESP/MEC. - Brasília : MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006. Disponível em: http:portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashabilidades.pdf

___________. Informativo Altas Habilidades ou Superdotação. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/acesso-a- informacao/institucional/secretarias/secretaria-de-modalidades-especializadas-de-

educacao/copy_of_InformativoAltasHabilidadesouSuperdotao.pdf

___________. A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação. Volume 1: orientação a professores / organização: Denise de Souza Fleith. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação

Especial, 2007. http:portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashab2.pdf

ROCHA, Alberto (org). Altas Capacidades e Sobredotação. Compreender, identificar, atuar. [s.l] Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação, 2017.